Parteira Dona Francisca que linda Dona Francisca é.
A princípio era uma roda-de-conversa, muitas dúvidas e muita vontade de saber o que aquela mulher já tinha feito, mas ela não é só parteira, é também benzedeira e raizeira.
Cabelinhos branquinhos, toda linda aos seus 72 anos. Uma roda acolhedora, cheia de olhares para ela, poucos/as ficaram ao lado dela, era de se querer mais, era preciso sentir o que aqueles olhos diziam e como passavam uma sinestesia de todos os sentidos.
Falou dos partos, das prisões, das ervas, das benzas, da erva santa maria, jequitibá, copaíba e muito mais. Vinda do Ceará, moradora do Goiás agora, saída da sua terra por causa da sua promessa e do seu talento de fazer bem aos/as outros/as e como faz.
Ao final tive de abraça-la, “que mulher guerreira” pensei eu, tive de sentir meu coração perto do dela e então desabei num pranto, engolir, não queria chorar ali na frente das pessoas, engolir e sair andando rápido, não queria que ninguém me visse chorando.
Porque estava chorando? O que diria? Sentir vergonha do meu sentimento e depois sentir vergonha de ter sentido vergonha.
Que mal fiz? Só estava emocionada com a presença da Dona Francisca, com a sua energia tão boa, mágica e precisava jogar aquilo para o mundo, então veio num rio de lágrimas.
Chorei por quase uma hora e agora a noite conversando com minha mãe sobre o que tinha ocorrido desabei a chorar de novo.
Muitos saberes, muito conhecimento, muita riqueza e eu o dia todo numa cadeira da academia.
Como eu quero largar isso tudo e como eu quero viver aquilo, preciso conhecer o que me chama.
Texto: Rayane.